Posso comer fiambre? E se for de aves?
O que posso, ou não, comer? A que alimentos devo dar primazia na dieta alimentar? Estas podem ser algumas das questões que se colocam quando pretende ter uma alimentação saudável e que não coloque em risco a sua saúde e bem-estar.
Há alimentos, como o fiambre, que podem ser muito práticos no seu dia-a-dia. Mas será saudável? É este o tema que iremos abordar hoje neste texto.
Recentemente a Organização Mundial de Saúde avaliou vários estudos epidemiológicos (mais de 700 estudos sobre o consumo de carne vermelha e mais de 400 sobre o consumo de carne processada) e sugeriu que o consumo excessivo de carne vermelha e carne processada pode aumentar o risco de vir a ter vários cancros.
O que é carne processada?
Mas vamos começar pelo princípio: o que é carne processada? Considera-se carne processada uma carne que tenha sido transformada através de salga, secagem, fermentação, fumo ou outro processo para realçar o sabor ou melhorar a sua preservação. A maioria das carnes processadas são de porco ou bovina, mas também podemos encontrar outras carnes vermelhas processadas, assim como também carne de aves, miudezas ou subprodutos de carne, como é o exemplo do sangue. O que, naturalmente, inclui fiambre de peito de frango e de peru.
Devo parar de comer carne?
Parar de comer carne é uma decisão que depende de cada um. O que os estudos acima mencionados dizem é que o consumo excessivo de carne vermelha e de carnes processadas pode vir a causar vários tipos de cancro. Por esse motivo, não convém comer carne vermelha todos os dias, assim como não convém comer fiambre (de aves incluídos) todos os dias ao lanche ou ao pequeno-almoço.
Outro ponto a ter atenção é que o estudo feito é um estudo epidemiológico, portanto não pode dizer que a carne causa cancro de estômago ou colorrectal. É, contudo, um estudo de alto nível de evidência científica, que deve ser levado em conta devido à sua relevância.
Um outro estudo epidemiológico feito sobre esta questão é o famoso China Study. “The China Study”, escrito por T. Colin Campbell, Ph.D, um dos diretores do Projeto China, e seu filho, Thomas M. Campbell II, examina a relação entre o consumo de produtos de origem animal e doenças como o cancro da mama, próstata e intestino grosso, diabetes, doença coronária, obesidade, doenças autoimunes, osteoporose, doença degenerativa do cérebro, e degeneração macular.
O The China Study
“O The China Study” é um estudo sobre o estilo de vida, dietético, fatores ambientais e os seus impactos sobre a mortalidade em 65 condados rurais chineses, com um levantamento das taxas de mortalidade para 12 tipos de cancro em mais de 2.400 municípios e 880 milhões de pessoas. O estudo, que começou em 1983 e foi descrito pelo The New York Times como “the Grand Prix of epidemiology”, foi realizado conjuntamente pela Universidade de Cornell, Universidade de Oxford, e da Academia Chinesa de Medicina Preventiva ao longo de 20 anos. O estudo foi realizado na China, uma vez que a este país tem uma população geneticamente similar, que tende a viver da mesma forma no mesmo lugar e comer os mesmos alimentos ao longo da vida. Em nenhum outro lugar ocorre tanta semelhança genética populacional com diferenças regionais significativas nas taxas de doenças, hábitos alimentares e exposições ambientais.
Os autores apresentam e explicam as conclusões do estudo, apontando uma correlação entre a dieta animal e as doenças. As dietas ricas em proteínas de origem animal (incluindo caseína no leite de vaca) foram fortemente ligadas a doenças cardíacas, cancro e diabetes tipo 1.
É semelhante a dizer que o cigarro causa cancro de pulmão. O cigarro não causa cancro de pulmão, mas quem fuma tem mais hipótese de desenvolver cancro nos pulmões. 1 em cada 9 fumadores desenvolvem cancro nos pulmões.
Que quantidade de carne devo comer?
O estudo não determinou quantidades. Assim, o que faz sentido é comer carne vermelha poucas vezes por semana e não todos os dias. Coma carne vermelha uns dias, peixe nos outros e também pode variar as refeições com ovos ou fazer algumas refeições vegetarianas.
Os nossos genes foram moldados a comer carne, mas temos que nos lembrar que a carne de hoje não é como a carne que se comia antigamente. Anteriormente comia-se carne de caça e não de criador e a carne de caça não era tão rica em gordura como é hoje a carne. Antigamente os animais alimentavam-se da natureza, não havia desfavorecimentos na gordura. O que desfavorece a gordura da carne de hoje, é o facto de que são dados alimentos para os animais de criação que contêm soja e milho – que têm mais ômega 6. O ômega 6 tem ação inflamatória no corpo. E ainda temos a considerar as hormonas, antibióticos e outras substâncias que atualmente são administradas nos animais de criação.
Portanto, dê preferência para a carne da quinta dos seus pais/tios/avós ou compre carne biológica sempre que for possível. E quando à dúvida de comer fiambre, mesmo sendo de aves esperemos que a questão tenha ficado respondida.
- Para saber mais sobre o estudo da OMS
- The China Study
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