Existem alimentos que podem ajudar no autismo?
O Autismo é um distúrbio a nível do neurodesenvolvimento, manifesta-se até aos 3 anos de idade, com uma maior prevalência no sexo masculino e o número de casos tem vindo a aumentar de forma significativa.
Quando falamos de Autismo, o que ressalta é principalmente as dificuldades na comunicação como interação social. Para além destas, há também uma maior agressividade, atraso na linguagem, comportamento repetitivo e recusa na realização de tarefas de rotina.
Para além das manifestações descritas, à determinados sintomas que são mais frequentes no Autismo como:
- Distúrbios gastrointestinais: diarreia, obstipação, refluxo, dor a nível abdominal, flatulência;
- Distúrbio do sono;
- Carências nutricionais;
- Uma redução a nível dos neurotransmissores (como o GABA e a serotonina);
- Um aumento da oxidação dos lípidos como do stress oxidativo, estando mais suscetíveis a sofrer danos a nível celular;
- Uma maior prevalência de danos da mucosa intestinal.
Tanto a causa como a cura são ainda desconhecidas, contudo uma adequada intervenção nutricional pode contribuir para minimizar alguns dos sintomas associados à doença.
Os principais pontos de atuação a nível alimentar são:
- Restaurar a permeabilidade intestinal;
- Melhorar o rácio ómega-3 : ómega-6;
- Analisar potenciais défices nutricionais;
- Normalizar qualquer tipo de disfunção gastrointestinal;
- Analisar possíveis alergias e intolerâncias alimentares;
- Ponderar a exclusão de alguns componentes da dieta, como o glúten, a caseína, o açúcar.
De forma a perceber um pouco melhor a ligação de cada um deles e a melhoria a nível de sintomas, serão abordados de forma individual cada um deles.
Permeabilidade Intestinal
- Quando há alterações na permeabilidade intestinal, a seletividade do que é absorvido é perdida, havendo assim a passagem de moléculas para a corrente sanguínea, em que muitas dela não deveriam ocorrer, como compostos inflamatórios ou mesmo bactérias;
- Este desequilíbrio levará a repercussões negativas como carências nutricionais, aumento do processo inflamatório, sistema imunitário comprometido, impacto a nível intestinal (como a diarreia, obstipação, dor abdominal) e até mesmo alterações a nível comportamental.
Rácio ómega-3 : ómega-6
- O ómega-3, concretamente o DHA e o EPA são cruciais para o normal funcionamento neurológico;
- O DHA desempenha um papel importante no desenvolvimento cognitivo, fluidez das membranas como na transmissão dos impulsos nervosos;
- Os estudos que têm sido realizados têm correlacionado níveis otimizados de EPA e DHA com uma redução da irritabilidade, hiperatividade, na regulação do humor, melhorias a nível da concentração, contacto visual, linguagem, capacidade motora e na redução da inflamação e do stress oxidativo;
- É relevante reforçar a importância de aumentar o consumo de ómega-3 e reduzir o consumo de ómega-6 visto, este último, ter um efeito pró-inflamatório enquanto que o ómega-3 tem um efeito anti-inflamatório;
- Alimentos ricos em ómega-3: peixes gordos, algas;
- Alimentos ricos em ômega-6: óleos vegetais (amendoim, sésamo, milho, girassol, soja), carne.
Analisar potenciais Défices Nutricionais
Para este ponto é necessário ter atenção duas situações distintas que poderão ser a causa das deficiências nutricionais:
- A influências dos processos fisiológicos e metabólicos levando por si a uma má digestão e absorção dos nutrientes;
- As escolhas alimentares dos autistas são por si bastante seletivas levando a uma recusa alimentar e a uma dieta restritiva do ponto de vista nutricional.
Os nutrientes que estão fortemente correlacionados com uma melhoria nos sintomas são:
Vitamina B12:
- Quando em carência, prejudica o desenvolvimento cerebral, por interferir na formação de mielina, que é necessária para a acção das fibras nervosas;
- A sua carência está mais correlacionada com a má assimilação;
- Fontes: alimentos de origem animal como os ovos, peixe, lacticínios e carne.
Ácido Fólico (Vitamina B9):
- É essencial para a síntese de alguns neurotransmissores, lipídios, proteínas, ácidos nucleicos, hormonas como na constituição do tubo neural;
- Têm demonstrado melhorias a nível comportamental, motoras e neurológicas;
- Fontes: leguminosas (feijão, grão, favas, ervilhas, lentilhas, amendoim, soja), legumes de folha verde escura, ovo).
Vitamina B6:
- Neste tipo de quadros, há por si uma redução dos neurotransmissores e a vitamina B6 poderá ser benéfica visto, estar envolvida na síntese de neurotransmissores como a serotonina, GABA, dopamina, adrenalina e noradrenalina;
- Esta vitamina é necessário ter um cuidado redobrado pois, o seu excesso, poderá levar a neuropatia periférica;
- Fontes: Peixe, leguminosas, ovo, carne, oleaginosas.
Vitamina D:
- Intervém na modulação da imunidade, auxilia na ativação de inúmeros genes (existem algumas mutações associadas à função nervosa e esta vitamina tem demonstrado um papel relevante);
- Exerce também efeito neuroprotetor e influência na síntese de serotonina (neurotransmissor);
- Esta vitamina não se encontra facilmente através da alimentação, contudo a carência está também relacionada com os distúrbios a nível intestinal, impedindo a sua assimilação;
- Fontes: peixes, ovos.
Vitamina C:
- Participa em diversas vias metabólicas e é cofator na síntese de neurotransmissores (conversão de tirosina em dopamina e de triptofano em serotonina);
- Está também envolvida em vias antioxidantes e na regulação da função imune;
- A nível de estudos, tem se demonstrado uma relação positiva com a redução dos comportamentos estereotipados.
- Fontes: salsa, legumes de folhas verdes escuras, pimento, kiwi, citrinos, papaia.
Disfunção gastrointestinal & alergias e intolerâncias alimentares
- Estes dois quadros têm uma relação direta com a permeabilidade intestinal e se esta for recuperada, os sintomas associados, tanto a nível gastrointestinal como de intolerância alimentar, melhoram de forma significativa;
- A alergia alimentar é já uma situação distinta e a estratégia nutricional baseia-se numa dieta de eliminação;
Dieta isenta de Glúten e Caseína:
- O Glúten é uma proteína presente em alguns cereais (trigo, centeio, espelta, cevada) e a caseína é uma proteína presente no leite e seus derivados;
- Estas duas proteínas têm sido estudadas e correlacionadas com a falta de atenção, irritabilidade, obstipação como de uma resposta imune com resultado inflamatório;
- Este tipo de dieta, de eliminação, deverá ser sempre feito de forma estruturada e acompanhada por profissionais de saúde, nomeadamente de um nutricionista, de forma a que não leve a mais complicações;
O objectivo não será “atacar” em todas as frentes mas sim, dar passo a passo, melhorar a qualidade alimentar do autista e ver as repercussões positivas que advém dessas mesmas alterações.
Se gostou, e pretende algum esclarecimento ou agendar uma consulta…
Contacte-nos para falarmos maisArtigo publicado pela nutricionista Dra. Ana Santos
Fonte da imagem: The Metagenics Institute